2 - HABITAÇÃO
O concelho de Cascais vive uma crise habitacional profunda e prolongada. Mais de cinco mil famílias residem em condições indignas — em anexos degradados, partes de casas ou até garagens, casas sobrelotadas — enquanto quase cinco mil pedidos de habitação social permanecem sem resposta. Em contrapartida, o boom da construção de luxo não trouxe soluções para a maioria da população, que enfrenta salários mais baixos do que nos concelhos vizinhos e um mercado imobiliário proibitivo. Esta realidade é inaceitável num município que se quer próspero e inclusivo.
A política municipal de habitação deve assentar em princípios de justiça social, equilíbrio territorial e sustentabilidade. O objetivo central é assegurar que cada família cascaense possa viver com dignidade, em casas de qualidade, acessíveis e integradas em comunidades coesas.
Para alcançar este objetivo, o programa estrutura-se em quatro eixos estratégicos:
Habitação acessível e diversificada - Cascais precisa de aumentar a oferta de habitação para diferentes públicos — jovens, famílias carenciadas, famílias da classe média sem acesso ao mercado livre, trabalhadores do concelho — com soluções que combinem arrendamento acessível, habitação pública e modelos de compra a custos controlados. Isto implica integrar quotas de habitação acessível nos grandes projetos e desenvolver novos polos habitacionais sustentáveis, bem servidos de transportes e equipamentos.
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A resposta não pode passar apenas pela expansão. É fundamental recuperar bairros degradados e nas áreas urbanas de génese ilegal, investir na melhoria do espaço público e transformar imóveis devolutos em novas oportunidades de habitação. Um programa consistente de reabilitação trará mais dignidade às famílias, reduzirá desigualdades e revitalizará zonas estagnadas do concelho.
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A Câmara deve assumir um papel de liderança, adquirindo terrenos estratégicos, exercendo o direito de preferência em imóveis e promovendo parcerias com cooperativas e privados para garantir habitação a custos controlados.
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A política de taxas e impostos municipais deve favorecer quem disponibiliza habitação acessível e penalizar o abandono ou a especulação. A a isenção de taxas para a construção de habitação a custos controlados e a dinamização de mecanismos de cedência de terrenos em operações urbanísticas de impacto relevante permitirão acelerar respostas.
Medidas de ação propostas:
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Criar dois novos Polos Urbanos Multifuncionais em Tires e na Adroana, de 4.000 a 5.000 fogos de habitação pública acessível, com execução plena em dois mandatos, inseridos em projetos urbanísticos de qualidade e ambientalmente sustentáveis. Este plano é complementar aos projetos que a Câmara se encontra a desenvolver.
Implementar o programa “Primeira Casa” - um programa de novas habitações para jovens a integrar em futuros planos de pormenor e/ou unidades de execução, garantindo que uma parte significativa da nova construção se destine à camada mais jovem da população do concelho.
Exigir nas operações urbanísticas que impliquem planos de pormenor, unidades de execução, loteamentos ou de impacto relevante, localizadas em áreas compatíveis com usos habitacionais, que as mesmas incluam terrenos a ceder para habitação pública ou fogos a disponibilizar para arrendamento acessível.
Criar o Fundo Ambiental de Reabilitação Urbana, um investimento anual mínimo de 10 milhões de euros em bairros e urbanizações degradadas, e em áreas urbanas de génese ilegal, melhorando o espaço público e a qualidade de vida dos residentes.
Desenvolver um programa de apoio a cooperativas, para construção de habitação a custos controlados, incluindo benefícios fiscais e a cedência de terrenos municipais em direito de superfície até 90 anos.
Estabelecer parcerias com privados para a promoção de habitação acessível.
Criar um programa de incentivos com vista à revitalização e reutilização dos imóveis devolutos inventariados, dando prioridade à habitação de renda ou custo acessível e a equipamentos de utilidade pública.
Aplicar a majoração dos índices de edificabilidade em terrenos que se destinem exclusivamente à construção de habitações a custos controlados, quer sejam para venda, quer sejam para arrendamento acessível, conforme previsto na lei.
Reduzir as taxas urbanísticas relativas à construção de habitações de custos controlados destinadas a arrendamento acessível.
Exercer o direito de preferência na aquisição de edifícios nas zonas de pressão urbanística, com o objetivo de aumentar a oferta de habitação no concelho.
Agilizar os processos de licenciamento dos fogos destinados a arrendamento acessível ou a venda a custos controlados.