4 - MOBILIDADE

A mobilidade em Cascais encontra-se num impasse: o concelho não é hoje amigo de quem se desloca de carro, nem de quem opta por andar a pé, de bicicleta ou de transportes públicos. Os congestionamentos crónicos em várias zonas condicionam o desenvolvimento económico e prejudicam a qualidade de vida. Ao mesmo tempo, os transportes públicos continuam a ser pouco atrativos, as ciclovias estão fragmentadas e mal planeadas, e os passeios encontram-se muitas vezes degradados, estreitos ou obstruídos.

Em 2010 a Câmara Municipal de Cascais desenvolveu o Estudo de Trânsito de Âmbito Concelhio (ETAC) tendo as suas diretrizes fundamentais integrado a revisão do PDM publicado em 2015. Este estudo identificou graves carências na oferta de transporte público no concelho, designadamente pela limitação do investimento na linha de Cascais, enquanto os autocarros convencionais foram considerados insuficientes para servir as deslocações internas. Por isso, propôs uma rede de Transporte Ligeiro de Superfície com 23 km de extensão no seu traçado principal, num sistema tipo metro ligeiro, ligando as estações de Carcavelos e Cascais. O percurso interior passaria por zonas densamente habitadas e equipamentos-chave, incluindo S. Domingos de Rana, Rebelva, Arneiro, Manique, Adroana, Alcabideche, Cascaishopping, Hospital de Cascais e a Vila de Cascais. 

A sua implementação total pressupõe a operação de 24 veículos em simultâneo, permitindo um intervalo de passagem de 6 minutos nos períodos de maior procura. Também se admitia a opção por veículos sobre pneus guiados – elétricos (por exemplo um sistema de Tram-Bus ou o BRT /Bus-Rapid-Transit). 

Volvidos 15 anos da elaboração do ETAC e 10 anos da entrada em vigor da revisão do PDM conclui-se que aquele estudo não saiu do papel.

Analisadas várias opções, propomos avançar com a implementação do sistema de transporte BRT, complementar às redes de autocarros existentes no município. Este sistema de transporte deverá também ser utilizado na A5, em articulação intermunicipal e com o governo, através da reserva de uma faixa BUS e da criação de infraestruturas complementares.

  • Melhorar a circulação automóvel não implica construir novas vias rápidas, mas sim adaptar a rede existente às necessidades atuais. A prioridade passa por corrigir pontos de estrangulamento, concluir ligações previstas há décadas e adotar soluções de tráfego urbano que tornem a circulação mais fluida e segura.

  • Gratuitidade sem qualidade não é solução. A mobilidade coletiva precisa de horários regulares, rotas ajustadas, paragens com abrigos eficientes e integração plena na rede metropolitana. Projetos estruturantes como o BRT devem ser encarados como investimentos estratégicos, capazes de reduzir o uso do automóvel e reforçar a coesão territorial.

  • Andar a pé em Cascais deve ser mais seguro e confortável. Implica investir na criação e reabilitação de passeios, eliminar barreiras e obstáculos, e transformar ruas em zonas pedonais vivas e atrativas. Do mesmo modo, a bicicleta deve passar de exceção a alternativa viável, através de uma rede de ciclovias coerente, contínua e conectada a escolas, estações e bairros.

  • Cascais deve liderar a transição para o transporte público e privado elétrico, com uma rede inteligente de carregamento, incentivos ao transporte partilhado e soluções inovadoras de gestão do tráfego e do estacionamento. Só assim será possível reduzir emissões, melhorar a qualidade do ar e tornar o concelho mais competitivo e sustentável.

    Um concelho evoluído e sustentável deve oferecer opções reais de mobilidade, seguras, rápidas e acessíveis. Exige-se uma estratégia integrada, capaz de reduzir o tráfego automóvel desnecessário, melhorar os transportes públicos, apostar na mobilidade suave e devolver espaço ao peão. Cascais tem ainda de assumir o seu papel na rede metropolitana, reforçando as ligações com Oeiras, Sintra e Lisboa.

O futuro da mobilidade em Cascais deve assentar em quatro eixos estratégicos:

A mobilidade não é apenas uma questão de deslocação: é um fator de justiça social, inclusão e desenvolvimento económico. Cascais precisa de oferecer aos seus cidadãos a liberdade de escolher como se deslocam, garantindo que todas as opções — carro, transportes públicos, bicicleta ou a pé — são seguras, acessíveis e eficientes. Só assim se poderá construir um concelho com uma mobilidade mais eficiente e, consequentemente, com mais qualidade de vida para todos.

  • Redefinir os sentidos de circulação viária em determinadas artérias do concelho com problemas de congestionamento de trânsito automóvel (exemplos: Eixo Sassoeiros - Arneiro – Lage; Largo do Cemitério de S Domingos de Rana).

    Criar uma nova saída da A5 em Tires, no sentido Lisboa–Cascais, com o objetivo de melhorar a fluidez do tráfego local e aliviar as filas que se formam diariamente nas horas de maior intensidade.

    Promover a implementação das vias estruturantes inscritas na revisão do PDM de 2015, optando sempre que possível por traçados e perfil urbano, em detrimento de vias rápidas.

    Implementar uma solução pedonal e viária que permita encerrar a última passagem de nível existente no concelho, em S. João do Estoril.

  • Implementar o sistema BRT, com desempenho semelhante ao de um metro ligeiro de superfície, mas com um custo inferior a 1/3 deste, considerando o potencial de utilizadores, abrangendo 75.000 habitantes (uma parte substancial dos residentes no concelho). 

    Reservar uma faixa BUS na A5 e criação de infraestruturas complementares, em articulação intermunicipal, para instalação do BRT com ligação entre Cascais e Lisboa.  

    Propor ao governo a eliminação de portagens no interior do concelho. 

    O sistema de transporte de autocarros apesar de gratuito para os utilizadores ainda se revela ineficiente. Verifica-se uma falta de frequência e de pontualidade em várias carreiras, além de que não está ainda implementado um sistema de georreferenciação acessível no telemóvel e em ecrãs nas estações que permita, em tempo real, identificar os percursos e tempos de espera (tal como já acontece com a Carris Metropolitana). 

    Rever algumas rotas que apresentam trajetos demasiadamente extensos e desadequados face à procura. 

    Aumentar a frota de autocarros de menor dimensão em determinadas zonas e/ou determinadas horas, de forma a reduzir tempos de espera. 

    Requalificar as paragens de autocarro do concelho, dotando-as de melhores condições de conforto e segurança. 

    Criar zonas de estacionamento gratuito junto às entradas da A5 em Birre, na Abuxarda e no Estoril, por forma a incentivar o car-sharing e utilizar o BRT. 

    Criar uma rede de autocarros escolares de forma a reduzir uma das maiores fontes de trânsito no concelho.

    Articular com o Governo central a urgente implementação de soluções para a modernização da linha de Cascais. 

  • Reforçar e requalificar a rede de ciclovias existente, numa ótica de segurança para todos e que assegure trajetos inexistentes, designadamente no litoral e nas ligações entre o litoral e o interior ao litoral. 

    Analisar o encerramento ao automóvel de determinadas artérias localizadas em centros urbanos transformando-as em espaços públicos aprazíveis e com vida urbana.  

    Concluir os 2 grandes troços em falta da pedovia do Guincho: Guia - Oitavos e Cabo Raso – Arriba.

    Remover mobiliário urbano localizado nos passeios que comprometa a circulação pedonal e viária, designadamente os acessos a pessoas com mobilidade reduzida. 

  • Reforçar a rede municipal de carregamento elétrico que assegure a transição energética e de mobilidade sustentável em Cascais. Inclui investimento direto em infraestruturas inteligentes (incluindo adaptação de postes de iluminação), benefícios específicos para residentes e trabalhadores locais.

    Introduzir sistemas de sinalização inteligente permitindo a otimização dos fluxos de tráfego nas zonas mais congestionadas (p. ex. Av. Marginal junto ao Auchan, Mercado de Cascais, Av. 25 de Abril e junto à Praça Francisco Sá Carneiro).

    Implementar projectos-piloto de pavimentação com tecnologia de asfalto drenante e sistemas de escoamento em zonas críticas de acumulação de água, promovendo a redução de inundações urbanas e o reforço da resiliência das infraestruturas rodoviárias face às cheias.

Medidas de ação propostas: